segunda-feira, 6 de março de 2017

Voltando para casa

Em Penitentes consegui falar com a minha esposa. Pedi para ela antecipar minha passagem, mas como a internet não estava das melhores não consegui acompanhar o que ela estava decidindo.
Puente del Inca - Caminho para Mendoza
A viagem de Penitentes até Mendoza demora, aproximadamente, 4 horas. Chegamos no hotel por volta de 00:00 horas, e só então consegui verificar o vôo. Minha esposa tinha conseguido antecipar apenas um dia, então ainda precisaria passar mais uma noite em Mendoza antes de voltar para o Brasil.
Eu estava exausto, tossindo muito e com muita saudade de todos no Brasil. Olhei as passagens, e achei um vôo direto da Gol que saia às 14:30 do dia seguinte. Não excitei, emiti a passagem de volta com milhas e dinheiro. Foi cara, mas não me arrependo nem um pouco.
No dia seguinte foi aquela correria. Tomei café, arrumei as malas e peguei a caixa de vinhos que o guia da Grade 6 Bernardo (Argentino) trouxe para mim no hotel.
Foi tudo cronometrado, mas deu certo! Às 19:30 já estava no Brasil sendo recepcionado pela minha esposa, minha filha e meu pai, no aeroporto de Guarulhos.
Chegada em Guarulhos
Sem dúvida, essa foi a expedição mais difícil que já participei. Não teria conseguido alcançar o objetivo sem o apoio da Grade 6 e todo treinamento físico que realizei ao longo de 1 ano.
Realmente, passei do meu limite físico. Vejo isso porque, mesmo após 1 mês e meio, ainda não consegui voltar ao meu condicionamento físico inicial, estando sempre com o imunidade baixa. Gripes, terçol e até uma outra infecção intestinal (dessa vez bacteriana) me atacaram nesse período.
Mesmo assim, não mudaria nada. A viagem foi uma experiência de vida incrível. Até a doença que contraí no Campo base Plaza Argentina, logo no começo da viagem foi positiva. Aprendi muito com ela, com o limite do corpo e a força do pensamento positivo. Quando falam: se você chegar ao limite do corpo ainda faltam 50% para o limite real. Acredite! Essa é a hora que o psicológico vence o físico.
Espero levar essa experiência para o resto da vida!
Foi incrível!
Obrigado a todos que me ajudaram, direta, ou indiretamente, na realização deste sonho pessoal!





Para baixo todo santo ajuda - A volta

Dia 13 - Campo 3 - Cólera - 5965 metros de altitude 
Acordei muito cansado e tossindo bastante. Durante a noite tive uma crise de tosse que acordei metade do acampamento.
Para piorar a minha situação (que já não era das melhores), o fato de não ter conseguido me hidratar e de não ter comido quase nada, me deixou ainda mais fraco.
O café da manhã foi servido ainda dentro das barracas, mas agora era hora de arrumar as coisas para partir. Essa seria a última vez que desmontaríamos a barraca, e depois caminharíamos com a mochila cargueira (agora estava com aproximadamente 20 quilos).
Tentei consumir o máximo de água possível. Já com meus itens pessoais arrumados, saí da barraca para desmontá-la junto com os guias da Grade 6.
A descida até Plaza de Mulas dura aproximadamente 6 horas. A caminhada é feita pelo outro lado da montanha e passa por todos os 3 campos (do outro lado da montanha), em apenas um dia.
As botas duplas são utilizadas até o fim do trajeto, mas as roupas são bem mais leves do que as utilizadas para o ataque ao cume.
Trecho que divide o campo 3 (Cólera) do campo 2 (Nido de Cóndores) - Foto: Marcio Yatsuda
Trecho que divide o campo 2 (Nido de Cóndores) do campo 1 Plaza Canadá - Foto: Marcio Yatsuda
Último trecho da descida antes de chegarmos a Plaza de Mulas - Foto: Henrique Scalco Franke
Nesse dia, ao contrário da volta do cume, meu cansaço foi diminuindo a medida que descíamos. O grande problema ainda era a tosse que estava cada vez mais forte e constante.
Chegamos em Plaza de Mulas e fomos recepcionados pela equipe da operadora local, Acomara, com um banquete. Pizza, coca-cola, cerveja, sucos, espumantes e a tão sonhada água mineral. Era o que eu precisava para me recuperar.
Nesse momento, o grupo se juntou para festejar a vitória!
Ficamos reunidos por algumas horas antes de recuperarmos nossas duffles bags, que havíamos despachado pelas mulas em Plaza Argentina.
Banquete de comemoração em Plaza de Mulas - Foto: Marcio Yatsuda
Já com as camas escolhidas, isso mesmo CAMAS, nos organizamos para o banho. Afinal, já estávamos há 6 dias só utilizando lenços umedecidos.
Também aproveitei para ir até o posto médico, uma vez que minha tosse estava muito forte e eu ainda apresentava alguns sinais de desidratação.
No caminho do posto médico, passei com o guia da Grade 6 Carlos Santalena no acampamento de uma outra empresa brasileira chamada Gente de Montanha, chefiada pelo guia Máximo Kausch. Estávamos procurando o atleta Brasileiro Bernardo Fonseca que também estava tentando o cume (conseguiu). Não demoramos mais de 3 minutos para encontrá-lo e, junto a ele, o guia Máximo. Ficamos mais de 30 minutos conversando antes de irmos ao médico.
A consulta foi rápida. Verificaram minha oximetria e escutaram minha respiração. Perguntaram se eu estava subindo ou descendo. Como a resposta foi descendo, fui liberado sem grandes observações: me alimentar e me hidratar bem.
Último jantar em Plaza de Mulas
Aconcágua visto de Plaza de Mulas

Aconcágua Vermelho - Por do sol visto de Plaza de mulas

Noite no acampamento Plaza de Mulas
Dia 14 - Plaza de Mulas - 4398 metros de altitude

Dormi muito bem! Acordei apenas para ir no banheiro, mas nada anormal.
A rotina não mudou muito: tomamos café, despachamos as duffles bags e partimos para nossa última caminhada.

Despedida do acampamento Plaza de Mulas
Como optamos pela rota 360º, fizemos a caminhada de quase 30 quilômetros descendo. Normalmente, os escaladores que optam pela rota normal fazem esse trecho de aproximação, que sai de Horcones e vai até Plaza de Mulas,  em apenas um dia.
Playa Ancha - Foto: Marcio Yatsuda
Playa Ancha - Caminho sem fim
Logo no início existe uma descida bem íngreme. Em seguida, o caminho fica praticamente plano. Existem algumas travessias de rios. Nesses momentos, é preciso descer e subir as encostas, algumas delas com desníveis de quase 100 metros.
Confesso que depois das primeiras 4 horas, já estava rezando para chegar. A caminhada é muito monótona e a paisagem tem poucas alterações até chegarmos na parte baixa do parque.
Parte baixa do Parque Provincial do Aconcágua

Saída do parque - Horcones - Rota 360º concluída
Nos últimos quilômetros, acabei me afastando um pouco do grupo. Eu já estava cansado e também aproveitei para tirar mais algumas fotos.
O fim do trajeto é muito bonito! Todo caminho é feito ao lado do rio Horcones e, nos últimos quilômetros, a paisagem vai ficando mais verde, com pássaros e o Aconcágua ao fundo.
No fim, existe uma lagoa, onde no dia, diversas pessoas estavam praticando Yoga, enquanto passávamos totalmente exaustos após tantos dia na montanha.
Todos chegaram bem! O grupo se reuniu e fomos novamente para o abrigo de montanha em Penitentes onde comemos e bebemos algumas cervejas. Havia SIM chegado ao final, feliz!
Refugio de montanha Cruz de Caña
Penitentes
Autografo de toda a equipe!

sábado, 4 de março de 2017

O ataque ao cume - 6.962 metros de altitude

Dia 12 - O sonhado ataque ao cume - 6962 metros de altitude

Fomos acordados às 2 horas da manhã para o café da manhã e para nos arrumarmos.
Nessa altitude a simples tarefa de calçar as botas é cansativa, por esse motivo todos os movimentos são feitos com muita calma.
As botas duplas, assim como todos os equipamentos, ficam dentro das barracas, já as partes internas (interior da bota), água e todas as baterias, ficam dentro do saco de dormir. Tudo isso, para evitar que congelem durante a noite.
A água e o café da manhã são levados até as barracas pelos guias da Grade 6. Nossa tarefa é de nos hidratar o máximo possível, e arrumar as mochilas com os itens pessoais como: equipamentos, lanche, óculos e reservatórios de água.
Separei 3 litros de água, barras de proteína, gel energético, jujubas energéticas, castanha e chocolate. Quantos aos casacos, foram 4 camadas na parte superior (2ª pele, fleece grosso, colete e casaco) e 3 camadas nos membros inferiores (2ª pele, fleece grosso e calça anorak). Na mochila, ainda levei o anorak, google, luvas extras e um gorro reserva.
Saímos das barracas às 3:50 da manhã, nos reunimos no início da trilha, rezamos e, com bastante calma, iniciamos nossa subida às 4:30.
Saída para o ataque ao cume - Campo 3 - Cólera




A primeira parada foi em Pietra Brancas. Havíamos caminhado cerca de uma hora em uma noite fria, mas muito bonita. Céu estrelado e sem vento. O descanso foi breve e logo começamos a subir novamente.
Mais uma hora e estávamos chegando em Independência, um acampamento avançado que pouquíssimas pessoas utilizam. Lá existe em abrigo de madeira abandonado, construído por antigas expedições. Essa parada foi um pouco mais longa. Aproveitamos para lanchar, colocar os capacetes e os crampons, uma vez que os próximos trechos seriam de gelo puro.
Amanhecer um pouco depois de Piedras Brancas
O dia começou a clarear e só então foi possível perceber como estávamos altos em relação às demais montanhas.
Após uma rampa bem inclinada chegamos ao Gran Acarreo. Uma travessia bem exposta, com muito gelo e vento, que nos leva até a Cueva que fica na base da temida Canaleta.
Descansamos 45 minutos na Cueva. Eu já estava muito cansado, mas ainda motivado.
Descanso na Cueva. Ao fundo o Grand Acarreo - Foto: Marcio Yatsuda


Deixamos para trás todas as mochilas. Dali em diante só precisaríamos de água, lanche e lógico a câmera fotográfica.
A canaleta é realmente dura! Eu, particularmente, estava bem cansado, porém  motivado. Alguns dos meus companheiros chegaram a pensar em desistir, principalmente pelo receio de não conseguir voltar, bastaram algumas conversas com os guias para todos seguirem em frente.

A canaleta - Foto: Marcio Yatsuda

Incrível como as distâncias nos enganam na alta montanha. Era possível avistar o cume da Cueva. Parecia tão perto, mas demoramos mais de 2 horas para superar a canaleta e a travessia que a sucede.
Paramos diversas vezes. Depois de um certo tempo, o grupo acabou se dividindo em 3 subgrupos. Segui com Sasha e José Marco grande parte do tempo. O ritmo era duas respiradas para um passo. Além disso, as paradas de 1 a 2 minutos foram constantes na travessia final. Há todo momento era possível avistar o cume e também escaladores que já estavam retornando. Nesse trecho, a mistura de neve e cascalho torna a escalada mais exigente em termos físicos, pois em alguns momentos o terreno acaba escorregadio.
A última subida para o cume chega a ser estranha. Você escala algumas pedras grandes, e logo avista a tão sonhada cruz que marca o cume da montanha mais alta das Américas.
Chegamos ao cume 14:30 horas. Foi sem dúvida o maior esforço físico e mental que já fiz. Não consegui controlar a emoção. Para mim, além da realização de um sonho, o fato de ter contraído a virose no campo base e ter conseguido me recuperar a ponto de atingir meu objetivo, fez com que esse momento fosse realmente único.
Cume do Aconcágua (6.962 metros de altitude) - 19 de janeiro de 2017 - 14:30 horas


O dia estava perfeito! Temperatura agradável e sem vento. Foi um espetáculo.
Ficamos no cume por quase uma hora. Com a euforia da chegada, meu cansaço desapareceu. Aproveitei muito aquele momento tão sonhado.
Quando iniciamos a descida, a conta por termos aproveitado tanto o cume e também ter me esforçado muito na subida, chegou. Já senti o cansaço nos primeiros metros. A mistura de pedras e gelo deixa a descida perigosa e, por isso, o esforço é ainda maior. Arrisco dizer que a descida foi pior que a subida.
Quando cheguei novamente a Cueva já estava exausto. Meus 3 litros de água já estavam terminando. O guia Carlos Santalena ainda distribuiu mais 1 ou 2 litros para dividirmos. Nesse momento eu já estava começando a tossir muito. O ar seco somado ao grande esforço fisico, a baixa temperatura e a falta de água acabaram com meu sistema respiratório.
Atravessei o Grand Acarreio parando de 30 em 30 metros para respirar e tossir. Independencia e Piedras Brancas foram trechos que percorri praticamente sozinho pois a grande maioria do grupo havia imprimido um ritmo mais forte, que em função do meu cansaço, não consegui acompanhar.
Não sei ao certo que horas cheguei ao acampamento 3 - Cólera. No último trecho encontrei com Sasha e José Marco que me incentivaram para terminarmos juntos essa etapa.
Ao chegar no acampamento a ordem foi hidratar e entrar nas barracas. Os guias da Grade 6 levaram sopa, macarrão e 1 litro de água quente para consumirmos antes de dormir.
Entrei na barraca já tomando a sopa. O macarrão chegou alguns minutos depois com a água. Me acomodei na barraca (estava sozinho) colocando a mochila para apoiar as costas, bebi a sopa, apoiei o macarrão sobre o peito e... DORMI! Isso mesmo, apaguei sem comer o macarrão e sem beber o litro de água.
Acordei no meio da madrugada com muita vontade de ir ao banheiro, mas não encontrava minha lanterna, pois havia deixado-a dentro da mochila. Apalpei toda a barraca até acha minha pee boutlle (garrafa para fazer o número 1 dentro da barraca). Foi um momento de agonia, mas tudo deu certo e em poucos minutos voltei a dormir.
Foto tirada no campo 2 que mostra a forma que acabei dormindo quando retornei do cume














quarta-feira, 1 de março de 2017

Campo 3 - 5.965 metros de altitude

Dia 11 - Campo 3 - 5965 metros de altitude

Acordei com a oximetria regularizada, ou quase .  Estava SO2 de 75%. Não é o melhor dos mundos, mas ok para continuar subindo.
Como já havia gastado todas as minhas fichas e não poderia mais ter imprevistos, paguei um Porter para carregar 10 kg dos meus equipamentos, dessa forma fiquei com uma mochila de 11 a 13 kg nesse último trecho de subida.

Trecho que divide o Campo 2 do Campo 3 (Cólera)

A caminhada foi bem cadenciada, como todos os outros dias. O único problema, para variar um pouco foi com a quantidade de casacos.
Como a decisão de enviar os equipamentos por um porter foi em cima da hora, acabei enviando todos os meus casacos extras.  A temperatura não variou muito, mas o vento aumentou e a roupa que eu estava vestindo não supriu minhas necessidades. Por sorte, o guia da Grade 6 Carlos Santalena possuía um casaco extra, que acabou me emprestando.
Cheguei bem ao Campo 3, chamado Cólera. Esse é o ponto onde escaladores que sobem por Plaza de Mulas encontram com os vindos de Plaza Argentina, pois esse é o último acampamento antes do sonhado ataque ao cume.

No fim da tarde, os guias da  Grade 6 se juntaram pra o briefing final antes do ataque ao cume. Ali, as mensagens são motivadoras, mas também claras, principalmente, quanto as ordens dos guias. Logo após, nos recolhemos para nossas barracas, pois acordaríamos às 02 horas da manhã para iniciar nossos preparativos.


quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Campo 2 - Mais um dia duro pela frente - 5.488 metros de altitude

Dia 9 - Campo 2 - 5488 metros de altitude

Acordamos 7 e pouco da manhã. Passei bem a noite, apenas com um pouco de calor. Acredito que foi a febre baixando, mas tudo certo.
Como nos outros dias, o guia Edu me ajudou com a hidratação e preparou todo o café da manhã. Fiquei na barraca descansando até o porter responsável pelo transporte da nossa barraca chegar, e me expulsar.  Dei uma leve ajuda para desmontar a barraca mas o trabalho pesado ficou com ele e com o Edu.
Terminei o café da manhã e a arrumação da mochila já do lado de fora da barraca.
Logo depois, descemos até um pequeno riacho para pegar a água que utilizaríamos até o Campo 2.



A caminhada já começa inclinada e piora até chegar ao topo do vale. São mais de 2 horas andando sobre o gelo.
Foto:  Marcio Yatsuda - Caminho para o Campo 2
O Alívio foi imenso quando conseguimos sair do vale que liga o Campo 1 a Plaza Argentina (campo base). Ver uma paisagem diferente e uma outra face da montanha, me trouxe mais motivação para continuar. A inclinação desses trechos também é bem menor, o que facilita bastante.
Paramos algumas vezes, mas apenas uma para um bom lanche. Após 5 ou 6 horas, chegamos ao Campo 2 ou também chamado de Campo 3 de Guanaco.


Campo 2 ou Campo 3 de Guanaco


Foto: Marcio Yatsuda - Campo 2 ou Campo 3 de Guanaco
Cheguei bem cansado, mas feliz. Fui muito bem recepcionado por todos os outros integrantes do grupo que estavam aproveitando o dia de descanso. Tratei logo de ir para barraca descansar e me hidratar.
No fim do dia tive a ótima notícia, que devido ao bom tempo, o grupo todo descansaria mais um dia no campo 2, antes de nos dirigirmos para o campo 3.
Foto: Carlos Santalena - Campo 2

Acordei no meu merecido dia de descanso bem disposto, mas com um pouco de frio. Achei estranho, mas preferi esperar um pouco. Depois de algumas horas medimos minha oximetria que, infelizmente, estava abaixo do limite. Como esse era o único sintoma de mal de altitude que estava sentindo, optei por me medicar e tentar melhorar para o dia seguinte.





quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Vamos para cima - Campo 1

Dia 8 - Campo 1 - 4988 metros de altitude

Acordei bem disposto, mas ainda com problemas estomacais. Tomei um café reforçado e parti com o Guia Eduardo Sartor da Grade 6, rumo ao acampamento 1.
Último dia em Plaza Argentina
A caminhada foi exatamente igual a do dia da aclimatação com a diferença do peso da mochila que estava com 23 kg.
Caminhamos por aproximadamente 5 horas entre os penitentes de gelo e encostas com muitas pedras soltas.
Risco de avalanche
Penitentes ao fundo - subida campo 1
Passamos por um grande susto quando uma pedra de mais de um metro de largura se soltou e veio em nossa direção. Por sorte, acabou se desviando e parando no meio da geleira, sem ferir nenhum dos montanhistas que vinham logo abaixo.
O dia de caminhada foi extremamente difícil pois, além de todas as dificuldades do terreno que já eram conhecidas, ainda foi preciso enfrentar trechos que antes eram neve, mas nesse dia haviam se transformado em gelo.
Cheguei exausto ao Campo 1, mas fui muito bem assistido pelo guia Eduardo Sartor da Grade 6, que realizou todas as tarefas sozinho e garantiu uma ótima hidratação e um ótimo jantar (comida liofilizada e sopa).


segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

A Virose - Plaza Argentina - 4.261 metros de altitude

Dia 7 - Plaza Argentina - 4261 metros de altitude

Acordei por volta de 01:00 hora da manhã com fortes dores do estômago e indigestão. Na hora achei que o jantar não havia caído muito bem, tratei logo de tomar um sal de frutas e voltar a dormir... Acordei novamente as 06:00 horas já muito enjoado e com fortes dores no abdômen. Saí da minha barraca, a qual dividia com um colega e fui direto para a barraca refeitório. Por volta das 07:00 comecei a beber um chá bem amargo que prometia melhorar o enjoo, mas não tardou para eu começar a vomitar. Também visitei o banheiro algumas vezes nesse período.
Assim que o posto médico abriu, lá estava eu de casaco pesado e tremendo de frio. Fui examinado pelo médico e como minha saturação sanguínea ainda estava dentro dos limites, fui autorizado a tentar recuperar no próprio campo base, mas para isso fui medicado com comprimidos e uma injeção.
Nesse dia, assisti 3 dos meus companheiros descendo da montanha de helicóptero, um deles, com os mesmos sintomas que eu estava sentindo. Pensei várias vezes em desistir e aproveitar para dividir o custo do vôo de volta, mas no fim resolvi descansar e ver até onde conseguiria aguentar.

Última noite em Plaza Argentina


Plaza Argentina - 4.261 metros de altitude

Dia 4 - Plaza Argentina - 4261 metros de altitude

Plaza Argentina é um acampamento bem menor que Plaza de Mulas, mas também é muito bem estruturado. Lá existe acesso a internet (US$ 30/dia), banho (US$ 20) e uma estrutura com barraca refeitório e equipe de cozinha.
Nascer da lua - Plaza Argentina

Chuveiro
Nosso primeiro dia foi reservado para descansar. Já havíamos tomado banho no dia anterior então restou aproveitar a internet e focar na hidratação, importante fator na montanha. 
O único exercício feito nesse dia foi uma pequena caminhada para relembrar as técnicas de caminhada no gelo.
Treinamento 

Plaza Argentina
Dia 5 - Aclimatação campo 1- 4988 metros de altitude


O processo de aclimatação exige um pouco de paciência. Nesse dia saímos de Plaza Argentina em direção ao campo 1, com as mochilas bem leves e com botas duplas. O dia estava bem quente, então não foi necessária a utilização de roupas mais pesadas.
O terreno é bem inclinado, o ritmo cadenciado e esforço imenso. Não me senti muito bem nesse dia.
Dores de cabeça e enjoo fizeram parte do meu processo de aclimatação enquanto subia, mas incrivelmente todos os sintomas do mal de altitude desapareceram quando voltamos para Plaza Argentina.
Subida para o campo 1
Raposa roubando algum alimento das barracas



Dia 6 - Plaza Argentina - 4261 metros de altitude

Outro dia de descanso e muita hidratação. aproveitei para tomar mais um banho, o último até Plaza de Mulas.
Tudo estava perfeito!  Consegui me aclimatar bem, estava com boa saturação (quanto oxigênio seu sangue está transportando), muito bem hidratado e com bastante apetite.
Aproveitei o dia para separar todas as coisas que iria levar para os campos altos, deixando na duffle todos os itens que só precisaria em Plaza de Mulas (outro lado da montanha).
Despedida Plaza Argentina - Só que não...
Aconcágua visto de Plaza Argentina




domingo, 12 de fevereiro de 2017

A aproximação


Nove anos se passaram, desde que ouvi pela primeira vez meu ex chefe, Marcello Chiasso, contar sobre suas tentativas de escalar o Aconcágua e sua bem sucedida chegada ao cume. Agora, finalmente, estava iniciando minha caminhada no Parque Provincial do Aconcágua.


Normalmente, as expedições entram no parque por Horcones e se dirigem diretamente para o acampamento Plaza de Mulas em um único dia. Nossa escolha foi a Rota 360 graus que inicia-se em Punta de Vacas e nos leva em 3 dias de caminhada até  outro campo base chamado de Plaza Argentina, situado no lado da montanha.
Entrada do Parque Provincial Aconcágua



















Dia 1 - Pampa Leñas - 2960 metros de altitude

Começamos a caminhar por volta das 10:00 horas da manhã. Levamos 05:30 para percorrer os 13,5 km que separam Punta de Vacas  do nosso primeiro acampamento Pampa Leñas. 
O trajeto não possui muitas subidas mas o terreno é bem técnico cheio de pedras soltas. 
Chegamos cansados, mas ainda precisávamos armar as barracas e organizar nossas coisas antes de pararmos para jantar. PS:As Duffle Bags são transportadas por mulas nesses primeiros dias de caminhada, restando apenas as mochilas de ataque para serem transportadas por nós. 
Início da caminhada
Dia 2 - Casa de Piedra - 3320 metros de altitude

Acordamos cedo para desmontar as barracas, arrumar as coisas, despachar a Duffle Bags pelas mulas e tomar um reforçado café da manhã. 
Check-list finalizado, partimos em direção a Casa de Piedra. O terreno não mudou muito, apenas algumas subidas e descidas mais fortes durante os 18 km do percurso que foi percorrido em 06:50 horas, com forte vento contra e muitas pedras soltas.
Esse lado da montanha é um pouco mais selvagem do que o tradicional. Nesse dia, pudemos ver um guanaco, que nos acompanhou durante um bom trecho e também foi possível ter a primeira visão do Aconcágua, bem no fundo do vale que teríamos que cruzar no dia seguinte.
Armar a barraca com vento não é uma tarefa trivial. Demoramos um pouco, mas no fim tudo deu certo. 
Primeira visão do Aconcágua
Guanaco

















O ponto alto do segundo dia de caminhada foi o jantar. Os arrieiros responsáveis pelas mulas prepararam um churrasco que foi armonizado com um ótimo vinho local.
Por fim, como nem tudo são flores, por sinal muito mas muito longe disso, conheci o tão temido banheiro do Aconcágua. Ele é apenas uma caixa metálica com um buraco onde fica posicionado um barril, que quando cheio é retirado de helicóptero pelo guarda-parques. O cheiro é insuportável quando está perto da sua capacidade, porém é a única opção, pois existe multa caso as necessidades sejam feitas em um local próximo.

Banheiro em Casa de Piedra






















Dia 3 - Plaza Argentina - 4261 metros de altitude

O processo é sempre o mesmo: acordar, arrumar as coisas, desmontar a barraca, despachar a duffle, tomar café e começar a andar. A única diferença é que as botas de caminhada só podem ser calçadas após atravessar o rio Horcones, extremamente gelado, formado pelas águas de degelo das montanhas próximas.
Os primeiros passos são extremamente doloridos, mas rapidamente se perde a sensibilidade e após alguns segundos não sente mais nada do joelho para baixo. Tarefas como colocar as meias e as botas ficam totalmente diferentes.  Só voltei a sentir os pés 20 minutos após iniciar a caminhada.
Logo após o rio entramos no Vale dos Relinches. Ao contrários dos outros dias, o caminho é extremamente íngreme e com alguns trechos expostos. Por isso o nome do vale.
Nesse terceiro dia, percorremos aproximadamente 14 km em 7 horas e desnível de 1.100 metros, para chegar em Plaza Argentina. 
Vale dos Relinches
Chegada em Plaza Argentina





Plaza Argentina

domingo, 29 de janeiro de 2017

Os primeiros dias

Saí de São Paulo no dia 06 de janeiro de 2017. Meu vôo passou por Buenos Aires antes de pousar em Mendoza. Viagem bem tranquila onde já pude encontrar com mais 2 integrantes da expedição.


 

Chegamos por volta das 20:00 no hotel de Mendoza. Deixamos as malas e fomos jantar em um restaurante próximo. Na volta só foi possível abrir a mala antes de dormir.

Dia 07 de janeiro foi marcado por muita correria. Como havíamos chegado tarde no dia anterior, não foi possível alugar os equipamentos, tão pouco rearrumar a mala que iria nos acompanhar nos próximos 18 dias.
Logo depois do café da manhã saímos para adquirir o PERMISO, que nos dá direito a ingressar no Parque Provincial do Aconcágua. O processo foi um pouco demorado, pois o pagamento não é feito no mesmo local que o documento é emitido, mas depois de algumas horas, tudo deu certo.








Burocracia resolvida, só restou correr para alugar os equipamentos e fazer as últimas compras, pois o grupo inteiro já estava fechando as malas. Partirmos para Penitentes logo depois do almoço.



         

Estrada sinuosa, com muitos túneis e desvios, mas chegamos bem no abrigo de montanha Refugio Cruz de Caña depois de mais ou menos 3 horas. Lá jantamos e dormimos aguardando pelo início da nossa jornada.