Fomos acordados às 2 horas da manhã para o café da manhã e para nos arrumarmos.
Nessa altitude a simples tarefa de calçar as botas é cansativa, por esse motivo todos os movimentos são feitos com muita calma.
As botas duplas, assim como todos os equipamentos, ficam dentro das barracas, já as partes internas (interior da bota), água e todas as baterias, ficam dentro do saco de dormir. Tudo isso, para evitar que congelem durante a noite.
A água e o café da manhã são levados até as barracas pelos guias da Grade 6. Nossa tarefa é de nos hidratar o máximo possível, e arrumar as mochilas com os itens pessoais como: equipamentos, lanche, óculos e reservatórios de água.
Separei 3 litros de água, barras de proteína, gel energético, jujubas energéticas, castanha e chocolate. Quantos aos casacos, foram 4 camadas na parte superior (2ª pele, fleece grosso, colete e casaco) e 3 camadas nos membros inferiores (2ª pele, fleece grosso e calça anorak). Na mochila, ainda levei o anorak, google, luvas extras e um gorro reserva.
Saímos das barracas às 3:50 da manhã, nos reunimos no início da trilha, rezamos e, com bastante calma, iniciamos nossa subida às 4:30.
Saída para o ataque ao cume - Campo 3 - Cólera |
A primeira parada foi em Pietra Brancas. Havíamos caminhado cerca de uma hora em uma noite fria, mas muito bonita. Céu estrelado e sem vento. O descanso foi breve e logo começamos a subir novamente.
Mais uma hora e estávamos chegando em Independência, um acampamento avançado que pouquíssimas pessoas utilizam. Lá existe em abrigo de madeira abandonado, construído por antigas expedições. Essa parada foi um pouco mais longa. Aproveitamos para lanchar, colocar os capacetes e os crampons, uma vez que os próximos trechos seriam de gelo puro.
Amanhecer um pouco depois de Piedras Brancas |
Após uma rampa bem inclinada chegamos ao Gran Acarreo. Uma travessia bem exposta, com muito gelo e vento, que nos leva até a Cueva que fica na base da temida Canaleta.
Descansamos 45 minutos na Cueva. Eu já estava muito cansado, mas ainda motivado.
Descanso na Cueva. Ao fundo o Grand Acarreo - Foto: Marcio Yatsuda |
Deixamos para trás todas as mochilas. Dali em diante só precisaríamos de água, lanche e lógico a câmera fotográfica.
A canaleta é realmente dura! Eu, particularmente, estava bem cansado, porém motivado. Alguns dos meus companheiros chegaram a pensar em desistir, principalmente pelo receio de não conseguir voltar, bastaram algumas conversas com os guias para todos seguirem em frente.
A canaleta - Foto: Marcio Yatsuda |
Incrível como as distâncias nos enganam na alta montanha. Era possível avistar o cume da Cueva. Parecia tão perto, mas demoramos mais de 2 horas para superar a canaleta e a travessia que a sucede.
Paramos diversas vezes. Depois de um certo tempo, o grupo acabou se dividindo em 3 subgrupos. Segui com Sasha e José Marco grande parte do tempo. O ritmo era duas respiradas para um passo. Além disso, as paradas de 1 a 2 minutos foram constantes na travessia final. Há todo momento era possível avistar o cume e também escaladores que já estavam retornando. Nesse trecho, a mistura de neve e cascalho torna a escalada mais exigente em termos físicos, pois em alguns momentos o terreno acaba escorregadio.
A última subida para o cume chega a ser estranha. Você escala algumas pedras grandes, e logo avista a tão sonhada cruz que marca o cume da montanha mais alta das Américas.
Chegamos ao cume 14:30 horas. Foi sem dúvida o maior esforço físico e mental que já fiz. Não consegui controlar a emoção. Para mim, além da realização de um sonho, o fato de ter contraído a virose no campo base e ter conseguido me recuperar a ponto de atingir meu objetivo, fez com que esse momento fosse realmente único.
Cume do Aconcágua (6.962 metros de altitude) - 19 de janeiro de 2017 - 14:30 horas |
Ficamos no cume por quase uma hora. Com a euforia da chegada, meu cansaço desapareceu. Aproveitei muito aquele momento tão sonhado.
Quando iniciamos a descida, a conta por termos aproveitado tanto o cume e também ter me esforçado muito na subida, chegou. Já senti o cansaço nos primeiros metros. A mistura de pedras e gelo deixa a descida perigosa e, por isso, o esforço é ainda maior. Arrisco dizer que a descida foi pior que a subida.
Quando cheguei novamente a Cueva já estava exausto. Meus 3 litros de água já estavam terminando. O guia Carlos Santalena ainda distribuiu mais 1 ou 2 litros para dividirmos. Nesse momento eu já estava começando a tossir muito. O ar seco somado ao grande esforço fisico, a baixa temperatura e a falta de água acabaram com meu sistema respiratório.
Atravessei o Grand Acarreio parando de 30 em 30 metros para respirar e tossir. Independencia e Piedras Brancas foram trechos que percorri praticamente sozinho pois a grande maioria do grupo havia imprimido um ritmo mais forte, que em função do meu cansaço, não consegui acompanhar.
Não sei ao certo que horas cheguei ao acampamento 3 - Cólera. No último trecho encontrei com Sasha e José Marco que me incentivaram para terminarmos juntos essa etapa.
Ao chegar no acampamento a ordem foi hidratar e entrar nas barracas. Os guias da Grade 6 levaram sopa, macarrão e 1 litro de água quente para consumirmos antes de dormir.
Entrei na barraca já tomando a sopa. O macarrão chegou alguns minutos depois com a água. Me acomodei na barraca (estava sozinho) colocando a mochila para apoiar as costas, bebi a sopa, apoiei o macarrão sobre o peito e... DORMI! Isso mesmo, apaguei sem comer o macarrão e sem beber o litro de água.
Acordei no meio da madrugada com muita vontade de ir ao banheiro, mas não encontrava minha lanterna, pois havia deixado-a dentro da mochila. Apalpei toda a barraca até acha minha pee boutlle (garrafa para fazer o número 1 dentro da barraca). Foi um momento de agonia, mas tudo deu certo e em poucos minutos voltei a dormir.
Foto tirada no campo 2 que mostra a forma que acabei dormindo quando retornei do cume |
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